Advocacia – Mercado
27/10/2017
Objetivo é ampliar debate sobre papel da mulher na sociedade
Por – Paula Dume
As mulheres representam 48,2% do total de inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil
A participação feminina nas empresas tem aumentado, porém ainda poucas mulheres conquistam posições de liderança. Atualmente, as mulheres ocupam 37% dos cargos de direção e gerência no país e são apenas 10% nos comitês executivos de grandes empresas, segundo dados divulgados em março deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mundo jurídico, o panorama geral não é diferente.
Um estudo recente desenvolvido pela consultoria McKinsey comprovou que, se houvesse no mundo a promoção da igualdade de condições de trabalho para as mulheres, o Produto Interno Bruto (PIB) teria um crescimento de US$ 28 trilhões até 2025. No Brasil, nos próximos oito anos, a economia poderia ter um ganho de US$ 850 bilhões ou atingir 30% do PIB nacional.
As mulheres representam 48,2% do total de inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Em Rondônia, as inscrições femininas na entidade chegam a 50,3%. Na ponta inversa, o Acre conta com 42,7% de aderência. Roraima (49,6%) e Acre (47,2%) são os estados que menos apresentam diferenças de participação no mercado de trabalho formal entre homens e mulheres, de acordo com o IBGE. A média no país é de 44%.
Saia justa? Não, saia jurídica
No meio jurídico, alguns grupos, como o Jurídico de Saias, trouxeram a questão à tona para discutir a carreira jurídica dentro das empresas ou entidades sem fins lucrativos. Em março de 2009, 14 amigas advogadas criaram o grupo, com o intuito de compartilhar ideias, experiências e discussões para as chamadas “Saias” conseguirem avançar profissionalmente na área jurídica das corporações.
Josie Jardim, VP jurídica e de compliance da General Electric (GE) para a América Latina e uma das idealizadoras do Saias, percebe uma mudança nas discussões nestes oito anos do grupo. Em 2009, as advogadas mais seniores se preocupavam sobre como avançar e enfrentar determinadas dificuldades nas empresas. Já, as mais novas concentravam-se em conseguir avançar na carreira e ter uma vida privada, conciliar filhos e trabalho, e ter equilíbrio.
“Eu vejo esse segundo tema sendo deixado em segundo plano. Eu acho que as mulheres estão aprendendo que a vida pessoal é importante. Pelo menos nas empresas e nas discussões dos Saias, isso não é um tema tão acachapante quanto era antes. Talvez porque a gente tenha falado que não existe uma hora certa para ter filhos. Nos escritórios, esse é um tema mais sério, porque pode prejudicar a nomeação como sócia”, explica.
Desde o início, o grupo visita os escritórios para discutir o tema. De acordo com Josie, esses bate-papos continuam crescendo. Ela acredita que esse movimento positivo não se deve ao Saias, mas à sociedade. A VP jurídica conta que os escritórios perceberam que, em algum momento, as advogadas abandonavam o trabalho para ter filhos e acabavam perdendo os talentos.
“Eles [escritórios] gastavam uma grana com essas mulheres treinando-as, e elas largavam tudo. Alguns perceberam que elas não paravam para ter filhos, mas migravam para outros escritórios um pouco menores onde sabiam que poderiam progredir. Então, os escritórios perceberam que era um mau negócio perder gente bem treinada. Além disso, eu acho que há cada vez mais clientes exigindo que os escritórios tenham ações afirmativas, trabalhos de Pro Bono, uma responsabilidade social adequada e isso não é só de mulher cliente, mas de homem também”.
Marina Anselmo, sócia que integra o Programa de Mulheres do Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados, confirma essa constatação. O escritório percebeu que havia um gap entre o número de mulheres em início de carreira (55%) e o de advogadas em posição de senioridade (30%) em suas dependências. “Percebemos que estávamos perdendo talentos femininos ao longo do caminho. Então, avaliamos que seria importante termos mecanismos para atrair e reter as mulheres para que elas se tornassem sócias no escritório e se destacassem no mercado”.
Um grupo de sócias voluntárias foi formado em 2015. Hoje, seis sócias lideram frentes diferentes com apoio interno do escritório para realizar debates e iniciativas, como o “Falando sobre elas”, realizado desde o ano passado, um programa de desenvolvimento profissional para as sócias falarem sobre a carreira, entre outros.
Outras iniciativas
No L.O. Baptista Advogados, as mulheres não sentem a necessidade de ter uma política específica. De acordo com Esther Jerussalmy Cunha, sócia do L.O. Baptista, todo mundo tem voz. O escritório tem 120 colaboradores, dos quais 60% são mulheres. Dentre os sócios, são dez homens e nove mulheres. Dessas, oito têm filhos.
“Desde o topo da pirâmide até embaixo, somos maioria. Setenta por cento dos currículos que recebemos são de mulheres. Não sei se há uma tendência por parte das mulheres”, confessa a sócia. Esther integra o projeto Venture Women Brasil, que tem o objetivo de unir e conectar mulheres da indústria de venture capital e private equity no Brasil para buscar mais diversidade de gênero nas empresas. Elas pretendem recrutar mais gestoras de fundos e investir em startups que tenham mulheres como fundadoras.
O primeiro encontro aconteceu em novembro de 2016. À época, a holandesa Alexandra de Haan, idealizadora do projeto que mora no Brasil há 17 anos, conta que ela e mais quatro começaram a fazer o levantamento feminino e se surpreenderam com a quantidade de colegas que encontraram. “Pensamos ‘Caramba, de onde estão vindo essas mulheres!? Estamos há tanto tempo no mercado e nunca as vimos!’”.
O projeto é dedicado às mulheres que trabalham como aceleradoras, impact investing, private equity, venture capital, entre outras funções. O VWB constatou que há mais mulheres juniores do que seniores nesse meio dos fundos de investimento, que conta com 150 empresas ativas no mercado. Hoje, o grupo já contabiliza quatro encontros realizados e uma pesquisa que deverá ser publicada em dezembro, chamada provisoriamente de “A presença de mulheres no venture capital no Brasil”.
O escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados lançou em 2011 um programa de mulheres, com o objetivo de adotar melhores práticas para treinar, desenvolver e reter talentos femininos. O programa também se preocupa com mentoria e flexibilidade. De 2010 a 2016, a participação feminina atingiu 54% no escritório. No mesmo período, o percentual de sócias aumentou de 24% para 35%.