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Competir no exterior enriquece currículo

Competir no exterior enriquece currículo

Estadão – Economia
02.04.2017

Por – Cris Olivette

Universitários que encaram o desafio de participar de disputas internacionais enriquecem suas habilidades e ganham destaque

Carlos Forbes (à dir.), presidente do CAM-CCBC e Rodrigo Diniz, assessor da secretaria geral do CAM-CCBC. Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

A participação de universitários em competições internacionais é considerada pelo mercado um diferencial de peso no currículo. Alunos de engenharia, direito e negócios, por exemplo, passam meses se preparando para enfrentar os desafios.

Os estudantes que desejam construir carreira na área de arbitragem contam com o Vis Moot (Willem C. Vis International Commercial Arbitration Moot), que se realiza todos os anos em Viena, na Áustria.
A competição foi criada para fomentar o estudo nas áreas de arbitragem comercial internacional e direito do comércio internacional, com foco na Convenção das Nações Unidas sobre Contratos e Venda Internacional de Mercadorias.

“Estamos indo para a 24ª edição. A primeira competição teve 14 faculdades de direito. Neste ano, serão 342 faculdades do mundo inteiro e mais de três mil alunos. Só do Brasil teremos estudantes de 24 instituições”, conta o presidente do Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil – Canadá (CAM-CCBC), Carlos Forbes.

Segundo ele, entre as principais habilidades que os participantes desenvolvem está o desembaraço. “Essa é uma habilidade que os advogados adquirem após bom tempo de experiência profissional. O Moot antecipa isso”, afirma.

Forbes acrescenta que os alunos têm de criar sistemática de estudo para que sejam capazes de examinar a lei profundamente. “Também é obrigatório aprofundar o inglês técnico, uma vez que no torneio este é o idioma oficial. Além disso, o domínio da língua é essencial para advogados que atuam com questões internacionais.”

Segundo ele, a partir do mês de outubro os organizadores divulgam o problema que terá de ser resolvido durante a competição, que ocorre em abril. “O problema não tem solução óbvia e os interessados têm de apresentar as alegações escritas, que são examinadas por um comitê. Entre janeiro e abril ocorre a fase de preparação da defesa oral das alegações. Nesse período, são realizadas uma série de Pre-Moots, que são treinamentos anteriores à competição.”

Forbes afirma que os maiores escritórios de advocacia e centros de arbitragem do mundo enviam representantes para acompanhar as competições e selecionar talentos.

Sócio da área de arbitragem do L. O. Baptista Advogados, Paulo Macedo considera importante essa experiência na formação do aluno. “Eles vivem um pouco da prática da profissão que não é só voltada para o conteúdo. Ela também é muito focada na capacidade de argumentação e exige demais do aluno. É uma experiência bastante rica para os estudantes e uma vitrine interessante para os recrutadores. Acho que é uma nova forma de ver a educação”, afirma.

Macedo diz que desde 2009 o escritório tem gente envolvida no Moot e envia com frequência representantes à Viena. “Alguns sócios já foram coach (treinador) de grupos que participaram das competições. Eu mesmo sempre sou convidado para ser árbitro em Pre-Moot”, conta.

Segundo ele, durante a competição os árbitros são duros e interrompem as falas para testar a capacidade de improvisação. “Nessa situação, é possível fazer uma avaliação muito mais completa do que em uma simples entrevista de emprego.”

Gustavo Kulesza participou da edição 2009 e foi contratado pelo Barbosa Müssnich Aragão – BMA Advogados. Hoje, trabalha como advogado visitante na equipe de arbitragem internacional do escritório Skadden, Arps, Slate, Meagher & Flom, em Nova York

Gustavo Kulesza. Foto: Dave Cross Photography.

Segundo ele, a força do trabalho em equipe foi uma das experiências mais importantes da competição. “Nosso time foi o primeiro a representar a USP no Vis Moot. Nenhum de nós havia participado da competição antes. Foi gratificante ver uma faculdade brasileira ficar entre as oito melhores de 230 times participantes.”

Kulesza considera a disciplina e o comprometimento como os maiores desafios do torneio, seguidos pela necessidade de ter fluência no inglês técnico, a complexidade das questões jurídicas e a necessidade de buscar apoio financeiro para participar dos Pre- Moots no Brasil e no exterior.

Em 2013, Rodrigo Diniz tinha 21 anos quando foi à competição como pesquisador da equipe e suplente de orador. “Mas acabei participando como orador nos Pre-Moots realizados em Budapeste e Belgrado. Desde então, estou envolvido na competição”, conta.

Diniz conta que no ano seguinte virou treinador. “Foi um salto muito grande porque esse papel costuma ser exercido por pessoas mais velhas. Mas por ter sido considerado peça-chave no time, fui escolhido.” Hoje, ocupa o cargo de assessor da secretaria geral do CAM-CCBC e continua treinando as equipes da faculdade de direito da USP.

Segundo ele, o trabalho de treinador tem caráter voluntário. “Se a equipe consegue apoio financeiro e ganha as competições, o treinador recebe reembolso das viagens na Europa. Mas nada é garantido. Porém, é um trabalho que gera frutos porque dá grande visibilidade também para aos treinadores.”

Mediação. A área de mediação também conta com competição organizada pela Câmara Internacional de Comércio (ICC) – em Paris, na sede da ICC International Commercial Mediation Competition.

A advogada Ligia Espolaor teve oportunidade de participar dos dois torneios. “Foram experiências fundamentais para o meu desenvolvimento. Os envolvidos têm de ter comprometimento com prazos, raciocínio estratégico em relação ao caso, além de explorar a escrita e a habilidade oral. Sem falar no networking e na possibilidade de manter interação multicultural”, conta.

A profissional, que trabalha 100% com arbitragem nacional e internacional, diz que as duas competições têm formatos parecidos. “Os alunos vivenciam situações parecidas com a realidade. Mas na mediação, os estudantes têm de usar argumentos para chegar a um acordo sobre um problema.”

Alunos da UFRJ ganham título inédito no País

Alunos de engenharia de petróleo e gás podem explorar e expor os seus talentos no PetroBowl, competição internacional que reúne centenas de estudantes dos mais diversos países. Na edição de 2016, realizada em Dubai, o time da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi campeão.

(a partir da esq.) Felipe Cruz, Gabriel Cunha, Santiago Drexler, Vinícius Moraes, Felippe Souza e Claudio Tejerina

Coordenador da equipe da UFRJ, Santiago Drexler conta que o evento é uma iniciativa da SPE (Society Of Petroleum Engineers), e é realizado durante a maior conferência da indústria, a Annual Technical Conference and Exhibition (ATCE).

Segundo ele, os participantes precisam reunir conhecimento de todas as áreas da indústria de óleo e gás. “Eles têm de dar respostas sob pressão e ter velocidade de raciocínio. Também desenvolvem a capacidade de trabalhar em equipe e de se organizar como um time para cumprir um objetivo comum.”

O professor afirma que o maior desafio é o grande volume de conhecimento que tem de ser estudado, além de ter de manter o foco e a calma na hora da competição. “As perguntas têm de ser respondidas em segundos. Eles têm de ter muita confiança no próprio conhecimento e velocidade para responder antes que os outros.”

Drexler destaca que durante a competição os alunos mantém contato com Capítulos Estudantis da SPE de diferentes partes do Brasil e de outros países no mundo.

“Além disso, participam de congressos internacionais e interagem com profissionais da indústria e do meio acadêmico. Isso é muito positivo e possibilita a troca de vivências com profissionais mais experientes e o desenvolvimento de rede de contatos.”

Experiência. Atual capitão da equipe da UFRJ no Petrobowl, Felippe Pardini de Souza afirma que os alunos não recebem nenhuma informação prévia sobre as questões. “A SPE fornece apenas indicações de fontes de estudo abrangentes e que englobam assuntos acadêmicos e não acadêmicos.”

Souza diz que participar de equipes de competição é uma das melhores formas de aplicar e ampliar o conhecimento aprendido na universidade. “Guardadas as devidas proporções e particularidades, trabalhamos como pequenas empresas: há setores de publicidade, desenvolvimento, administração, tecnologia, financeiro etc.”

Entre as competências desenvolvidas também destaca o trabalho em equipe. “Fazendo analogia com a indústria do petróleo, cada membro é uma coluna de sustentação de uma plataforma oceânica. Sem alguma delas, a plataforma aderna. Saber as limitações e habilidades de cada um no grupo e trabalhar arduamente em conjunto visando um objetivo em comum são as principais funções de uma equipe que, quando compreendidas e executadas da forma correta, geram bons resultados.”

Souza afirma que três dos cinco membros da equipe de 2016 estão empregados. “Dois estão estagiando e foi contrato por uma grande multinacional.”

Evento em Madrid atrai jovens da área de negócios

A Global Marketing Competition, realizada pela Executive Education ESIC – Business & Marketing School, costuma atrair participantes de mais de 90 países. A edição 2016 teve 60 mil participantes de 881 universidades e escolas de negócios, atraindo duas mil empresas para a final, realizada em Madrid.
O diretor da unidade brasileira da escola espanhola instalada em Curitiba, Alexandre Luís G. Weiler, afirma que a competição encontra-se em um estágio muito maduro.

Alexandre Weiler. Foto Antônio Carlos Silva

“Ela tem potencial único de agregar valor e conhecimento aos participantes. É também uma oportunidade única para profissionais de mercado e negócio testarem suas habilidades, competências e performance em um cenário de real competição do mundo corporativo globalizado”, salienta.

Segundo ele, a participação de brasileiros tem crescido. “Nosso objetivo é atrair alunos de todas as universidades e escolas de negócios que tenham interesse em vivenciar essa experiência”, diz.

Weiler ressalta que apesar do nome – Global Marketing Competition – o entendimento internacional da a palavra marketing tem a ver com ‘filosofia de gestão’. “Para uma compreensão correta, aqui no Brasil poderia ser denominada Global Business Competition”, exemplifica.

O diretor afirma que entre as habilidades e conhecimentos adquiridos pelos participantes estão: estratégia, marketing, comunicação, logística, precificação, pesquisa, comportamento do consumidor, tomada de decisão, gestão de conflitos, liderança, e gestão de produtos.

“A área financeira e o uso de ferramentas administrativas e de gestão também são exploradas. A cada etapa, mais de 420 decisões são tomadas. Atuar em ambiente competitivo internacional prepara os alunos para desafios em níveis mais elevados.”

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