Publicações

Estrangeiras dominarão setor aeroportuário

Estrangeiras dominarão setor aeroportuário

Valor Econômico
18/03/2019

Por — Camila Maia, Ana Paula Machado e Arícia Martins

O sucesso da 5ª rodada de concessões de aeroportos, realizada na sexta-feira, marca o início de um novo ciclo de concessões e parcerias no país. Para especialistas ouvidos pelo Valor, o setor aeroportuário brasileiro caminha para ser dominado por operadoras estrangeiras de grande porte, com espaço para presença de fundos de investimento e também grupos locais de menor porte no caso de terminais regionais.

“O resultado do leilão mostrou uma coisa positiva que é o governo passando um setor básico da infraestrutura para operadores especializados, com grande escala e experiência”, disse o economista Gesner Oliveira, sócio da GO Associados. Para ele, o setor aeroportuário privado do país está sendo construído neste momento. “Tudo leva a crer que teremos um novo ciclo de parcerias e concessões. Acho que o leilão de hoje [sexta-feira] marcou o início desse novo ciclo”, completou o especialista.

O modelo de leilão por blocos, cujo primeiro teste – bem sucedido – aconteceu semana passada, é visto como uma solução inteligente para a saída gradual da Infraero dos terminais brasileiros. “Tenho a impressão que o governo encontrou uma fórmula para fazer o ‘fading out’ da Infraero mais tranquilo. No futuro, teremos domínio de operadores privados, naturalmente bem regulados”, disse Oliveira, que enxerga espaço para alguma participação de capital nacional, grandes operadores internacionais e alguns fundos que têm estratégia de investimento “diferenciada.”

O espaço da estatal já está sendo, aos poucos, ocupado pelas grandes operadoras internacionais. Duas delas venceram a disputa de sexta-feira. A estatal espanhola Aena estreou no país arrematando o bloco do Nordeste, cujo principal terminal é o do Recife (PE). A suíça Zurich, por sua vez, ampliou sua presença no Brasil ao vencer o bloco do Sudeste, composto pelos aeroportos de Vitória (ES) e Macaé (RJ).

Hoje, o governo lança os estudos de viabilidade da 6ª rodada de concessões, que envolverá a transferência para ao setor privada de 22 terminais, divididos em três blocos cujos principais aeroportos serão Manaus (MA), Goiânia (GO) e Curitiba (PR). O certame é previsto para setembro de 2020. Depois disso, haverá a última rodada, em 2022, que envolverá outros 22 terminais e deverá atrair intensa competição, uma vez que vai incluir os aeroportos de Congonhas e Santos Dumont.

“Está cada vez mais claro que esse será um setor dominado por operadoras mundiais de aeroportos, associadas ou não a fundos de investimentos”, disse João Santana, especialista em gestão de infraestrutura. Sem as amarras da Infraero, que tem problemas de eficiência por ser estatal, as novas operadoras devem destravar valor explorando mais ofertas de serviços e o conceito de “aeroporto cidade”, com dedicação ao entorno dos terminais.

Chamou a atenção do mercado o elevado ágio praticado no certame de sexta-feira, que chegou a uma taxa média de 986% em relação à contribuição mínima inicial determinada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), de R$ 219 milhões. “Vários fatores explicam os ágios grandes. Quando os estudos foram realizados em 2017, a perspectiva econômica era pior que hoje, e o negócio aeroportuário é muito vinculado ao PIB”, disse David Goldberg, sócio da consultoria Terrafirma.

Para o advogado Alberto Sogayar, sócio da área de infraestrutura do L.O. Baptista Advogados, não houve erro de cálculo das vencedoras. “Já experimentamos erros recentes e as empresas viram isso. As vencedoras não são irresponsáveis, são sólidas e acreditam no negócio, no potencial de crescimento do mercado aeroportuário,”

Com o sucesso da modelagem em blocos, a tendência é que a calibragem do cálculo da outorga seja aprimorada, ao mesmo tempo em que os investidores vão se preparar cada vez mais para as próximas brigas. “O governo vai poder subir a régua e o mercado já se aqueceu, foi ótimo para todos. Tivemos inanição de concessões nos últimos anos. Não tenho dúvida de que o Estado vai fazer uma análise mais criteriosa, e o mercado continuará se aquecendo”, disse Sogayar.

Além da mudança na oferta de aeroportos por blocos – que permite que terminais deficitários sejam transferidos à iniciativa privada associados à aeroportos lucrativos -, também foi bem visto o período de carência para pagamento da outorga variável. Esta não será mais fixa, mas vinculada a um percentual da receita do aeroporto.

“O nível de investimentos nos aeroportos é mais baixo que nos anteriores, então você pode ser mais agressivo na modelagem, embora eu ache que a Aena errou no ponto de vista do valor. O que justifica o lance é a representação que a vitória terá na sua plataforma mundial, ela agregou aeroportos no Brasil que é um mercado promissor”, disse Santana.

Outro ganho previsto é a competição entre os novos operadores. No Nordeste, por exemplo, serão três grandes estrangeiros explorando os três principais terminais da região: Fraport em Fortaleza, Vinci em Salvador e Aena no Recife. “Ali, haverá competição, o que deve levar a melhora do nível dos serviços”, disse Goldberg.

Fonte: https://www.valor.com.br/empresas/6164919/estrangeiras-dominarao-setor-aeroportuario#impresso528172

Outras notícias
Tags