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Incerteza no cenário eleitoral trava grandes operações, mas deals de médio porte devem acontecer neste ano

Incerteza no cenário eleitoral trava grandes operações, mas deals de médio porte devem acontecer neste ano

Lexis 360 – M&A I Panorama mensal
31.08.2018

Mercado segue cauteloso à espera do resultado das urnas

Por – Paula Dume

As eleições de outubro têm afetado as operações de fusões e aquisições no Brasil e provocado uma suspensão temporária nas tomadas de decisões. A imprevisibilidade do processo eleitoral deixa os investidores receosos com o rumo que as reformas vão tomar, como serão feitas as indicações para agências reguladoras e com a condução da política econômica no próximo governo.

Grandes players, especialmente os que dependem mais de decisões no plano do Executivo, estão em standby. É o caso de Embraer e Petrobras, por exemplo, que têm negócios engatados (com Boeing e LyondellBasel, respectivamente), mas não devem concluir os deals antes das eleições de outubro.

De acordo com informações da Bloomberg, as fusões anunciadas desde o terceiro trimestre tiveram uma queda de 37%, chegando a US$ 4,79 bilhões, comparadas ao mesmo período do ano passado. Cerca de US$ 33 bilhões em negócios anunciados neste ano estão represados – e o valor está 4,5% abaixo do mesmo período de 2017, segundo a agência.

As companhias brasileiras de médio porte, porém, apresentam confiança nos negócios e em seu desempenho. De acordo com o Growth Barometer, estudo encomendado pela Ernst & Young para a Euromoney Institutional Investor Thought Leadership e divulgado neste mês, 57% das empresas brasileiras que participaram da pesquisa esperam um crescimento entre 6% e 10% neste ano – bem acima dos 2,3% de crescimento da economia brasileira previstos pelo Fundo Monetário Internacional em 2018. Enquanto 38% das empresas brasileiras planejam crescer até 5%, apenas 3% estimam alcançar um aumento entre 11% e 25%. A pesquisa foi realizada entre 15 de janeiro e 1º de março deste ano. Mais de 2 mil executivos de empresas em 21 países foram consultados.

“Quando você olha esse cenário onde as empresas têm uma expectativa de crescimento muito acima do que o Brasil espera crescer, e elas indicam que o crescimento será principalmente no mercado doméstico, pode ter certeza que é um indicativo de que transações ainda estão sendo estudadas e devem se materializar em 2018”, afirma Leonardo Donato, líder de mercados emergentes da EY no Brasil e na América Latina. O executivo acredita que esses deals podem acontecer mesmo diante da incerteza do cenário eleitoral.

Donato destaca que a questão da disponibilidade de recursos para a compra (funding) é um dos maiores obstáculos que as empresas brasileiras reportaram no sentido de ter o crédito muito escasso e ainda caro. “Todas as empresas que têm caixa, inclusive os próprios bancos ou fundos, estão em um momento de cautela”, ressaltou.

A sócia da área de Societário do L.O. Baptista Advogados, Cássia Monteiro, nota um recuo do investidor disposto a aplicar recursos ou a comprar empresas e concluir as operações. A advogada explica que existe um movimento em relação à análise de potenciais alvos e de trabalhos de auditoria e investigação no setor de M&A, mas as decisões sobre a estruturação financeira e, consequentemente, os fechamentos estão sendo postergados para após as eleições.

Movimentações no Cade

Os setores farmacêutico e de energia concentraram o maior número de operações notificadas e aprovadas sem restrições pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) neste mês. Dentre as que receberam aval da autoridade antitruste, destaca-se a transação bilionária entre a farmacêutica japonesa Takeda e a biofarmacêutica irlandesa Shire, a aquisição da distribuidora de energia Cepisa pela Equatorial Energia e a compra do negócio de energia distribuída da GE pela gestora americana de investimentos Advent International.

A Superintendência-Geral (SG) acolheu o pedido de ingresso das empresas Simba, Warner, Sky e NeoTV como terceiras interessadas na transação que envolve a aquisição do controle da Twenty-First Century Fox pela The Walt Disney Company. Segundo a SG, os argumentos apresentados pelas companhias “apontam possíveis efeitos negativos que podem advir da operação em análise e como seus interesses podem ser afetados”.

Duas operações foram consideradas complexas pela autoridade antitruste. A primeira se refere à transferência de autorização da Expresso Gardenia para a União Transporte Interestadual de Luxo (UTIL), relacionada a cinco linhas rodoviárias interestaduais de transporte de passageiros. A SG afirmou ser necessário um aprofundamento da investigação e a avaliação do impacto da operação no mercado.

Já no caso da aquisição do controle dos negócios de prestação de serviços de transporte de valores da Transfederal Transporte de Valores pela Prosegur Brasil, a área técnica do Cade disse que irá aprofundar a análise de rivalidade nos mercados de transporte e custódia afetados pela operação e pediu que as empresas apresentem as eficiências geradas pelo deal.

No acumulado da TTR

Segundo dados da Transactional Track Record (TTR), extraídos até 30 de agosto, os setores que mais acumularam operações no Brasil no mês foram os de financeiro e seguros (19 deals), tecnologia (14 deals), saúde, higiene e estética (9 deals) e distribuição e retail (7 deals).

Já o número de operações de fusão e aquisição no país teve um aumento de 3,61% neste mês, comparado ao mesmo período do ano passado. No total, foram 86 transações, sendo 61 de M&A, 15 de venture capital e 10 de private equity. Desse total, 54 já foram concluídas.

IPOs no país e no mundo

A retomada das ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) no país também está ligada ao cenário eleitoral e depende de qual política econômica será adotada pelo próximo governo. No início do ano, o otimismo com a recuperação econômica levou várias empresas a prepararem a abertura de seu capital. No entanto, somente os IPOs da NotreDame Intermédica, Hapvida e Banco Inter obtiveram sucesso. No exterior, a abertura de capital da PagSeguro arrecadou US$ 2,2 bilhões na bolsa de Nova York.

Na segunda janela de captação de ofertas, pelo menos dez empresas –Ri Happy, Centauro, JHSF Malls, Agibank, Bunge Açúcar, Dass, Grupo Almeida Junior, Banrisul Cartões, Quero-Quero e Multilaser– que pretendiam listar suas ações adiaram ou desistiram dos seus planos.

De acordo com uma reportagem do Valor Econômico, alguns banqueiros de investimento acreditam que as empresas voltem a abrir seu capital ainda neste ano só se houver indicação de avanço de uma agenda reformista, que inclua o problema fiscal do país.

Em entrevista à Reuters nesta quarta-feira (29), o presidente-executivo da B3, Gilson Finkelsztain, declarou que de 15 a 30 companhias brasileiras estão prontas para listar suas ações na bolsa até o final do próximo ano. O movimento, segundo ele, pode deslanchar após o fim das eleições presidenciais.

No exterior, um rumor de que a petrolífera Saudi Aramco havia cancelado sua abertura de capital agitou o mercado. No entanto, o governo da Arábia Saudita esclareceu na quinta-feira (23) que permanecia comprometido com o IPO da estatal saudita e que ele aconteceria em algum momento no futuro. O IPO, que criaria a maior empresa de capital aberto do mundo, foi proposto pelo príncipe Mohammed bin Salman em janeiro de 2016 e estava programado para ocorrer no ano passado.

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